Dislexia: O papel fundamental do pedagogo para alfabetização dos alunos disléxicos

Dislexia: O papel fundamental do pedagogo para alfabetização dos alunos disléxicos

Por: Flávia Miola Gomes

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Segundo os dados estatísticos do IBGE/ UNICEF (2009), estima-se que cerca de 15 % da população mundial é disléxica, isso dá em media de três a quatro crianças afetadas em uma sala com 25 alunos. O aluno disléxico tem uma história de fracassos e cobranças que o fazem sentir-se incapaz. Não obstante, a Dislexia ainda não é tema muito recorrente das discussões em nossos componentes curriculares do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal da Bahia, e a Dislexia é a de maior incidência de distúrbios da linguagem escrita e merece toda atenção por parte dos gestores de política educacional, especialmente pelos pedagogos e os graduandos em pedagogia.

A Dislexia, por originar dificuldade no desenvolvimento cognitivo e no aprendizado das crianças relacionadas à leitura e a escrita, é um problema que merece atenção especial dos graduandos em pedagogia, pois é na face da instrução primária que é necessário dedicar mais tempo, empenhando-se em ajuda-los a esses alunos disléxicos a vencer suas dificuldades e diminuir a frustração, pois é bem possível que uma criança com Dislexia se torne um adulto que ainda tenha dificuldade na leitura. Quanto mais precocemente for realizado o diagnóstico de Dislexia, maiores serão as chances de tratamento especializado ou adequado, fazendo com que minimize as dificuldades escolares e/ou sociais. Porém, a intervenção pode ser iniciada a qualquer idade, o que tem a muito a contribuir para o sucesso da pessoa disléxica.

Trata-se de uma desordem (dificuldade) manifestada na aprendizagem da leitura, independentemente de instrução convencional, adequada inteligência e oportunidade sócio-cultural. O cérebro de disléxicos, devido às falhas nas conexões cerebrais, não funciona desta forma.  No processo de leitura, os disléxicos recorrem somente à área cerebral que processa fonemas. A consequência disso é que disléxicos têm dificuldade em diferenciar fonemas de sílabas, pois sua região cerebral responsável pela análise de palavras permanece inativa. Suas ligações cerebrais não incluem a área responsável pela identificação de palavras e, portanto, a criança disléxica não consegue reconhecer palavras que já tenha lido ou estudado. A leitura se torna um grande esforço para ela, pois toda palavra que ela lê aparenta ser nova e desconhecida. (FONSECA, 1995, p. 330).

Segundo Fonseca (1995), Dislexia é um transtorno especifico no aprendizado na leitura, cuja característica principal é o rendimento escolar abaixo do esperado para idade cronológica, apesar de o potencial intelectual e não tem nada a ver com a perturbação psíquica, não é uma doença, ou seja, a criança disléxica tem o QI normal ou superior, é um funcionamento peculiar do cérebro para o processamento da linguagem, interferindo nas habilidades linguísticas (escrita/leitura).

Segundo Zorzi (2009, p. 143), “alfabetizar implica educar a mente e os sentimentos. A criança precisa apropriar-se não só das letras, mas de todas as sensações que elas podem expressar.” São vários fatores que interferem no processo de ensino e aprendizagem das crianças, sejam em determinar limites ou de impulsionar no desempenho na alfabetização, o papel do pedagogo é fazer com que estes alunos melhorem a autoestima, monitorando suas atividades e tendo uma avaliação diferenciada, pois quando pensamos em alfabetização, imaginamos uma criança lendo e escrevendo a partir de uma metodologia que leva a compreender que devem ser usadas letras, que essas letras se juntam para formar sílabas e, a partir destas, formam-se as palavras, e isto não acontece com uma criança disléxica.

Segundo a Lei nº 9.394/1996, é preciso favorecer a promoção de um processo de aprendizagem inclusiva, dinâmica, interativa, aberta, sem perder de vista a concepção humanista, visando não somente informar, mas formar cidadãos críticos, conscientes e ativos, evitando o fracasso escolar, principalmente por parte de alunos que apresentam condutas incompreendidas e que não são percebidas no dia-a-dia pedagógico, como a dificuldade de aprendizagem dos educandos disléxicos. Fazer repensar a metodologia e os instrumentos de avaliações e práticas pedagógicas que contemplam atendimento específico às crianças disléxicas.

A intervenção com crianças disléxicas baseia-se no treinamento da escrita e da leitura, a fim de irem memorizando a maneira correta de ler e escrever determinadas palavras ligando o som à grafia. Diante disso, quando a dislexia é precocemente descoberta, é maior a probabilidade da criança não sofrer muito com suas dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita, tornando mínimos seus problemas emocionais durante sua caminhada escolar e em sua convivência social. (MELLO, 2008, p. 13).

Conforme Mello (2008), e a Lei nº 9.394/1996, esse modelo de educação inclusiva vem penetrando o sistema de ensino público regular, em razão da nova posição pedagógica de ensino e de uma prática pedagógica especial, de dar condições de reconhecer, compreender, respeitar seus alunos, independente de suas habilidades ou dificuldades de aprendizagem.

Diante dessas informações, coloca a necessidade de pedagogos estarem aptos e de ter certo conhecimento para acompanharem educandos com este tipo de déficit. De acordo com a ABD- Associação Brasileira de Dislexia (2009), os alunos disléxicos são considerados pessoas com NEE- Necessidades Educacionais Especiais, e através disso, as escolas precisam de meios e metodologias diferenciadas para atender as necessidades deste grupo, dispondo de recursos pedagógicos diferenciados, reorganizando a sala de aula para que se desperte a vontade do conhecimento, utilizando cartazes, ilustrações e priorizando métodos que estimulem os sentidos (multissensoriais). Mas segundo o Decreto 7.611/2011, “considera-se público-alvo da educação especial as pessoas com deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades ou superdotação” ou seja, alunos com Dislexia não são contemplados pela legislação.

A importância da qualificação dos profissionais em pedagogia é algo imprescindível para o acompanhamento deste grupo de alunos disléxicos, pois a metodologia especifica e a avaliação tem que estar de acordo com a dificuldade dos educandos disléxicos.

A qualificação do professor é de suma importância para superar a ideia de que o fracasso escolar é uma culpa exclusiva do aluno. O resultado do desempenho do aluno está ligado ao que se chama de motivos intra-escolares, o que suscita a responsabilidade do educador, do orientador educacional, e de outros profissionais que desenvolvem atividades dentro da escola (TAVARES, 2009, p. 46).

Para Tavares (2009), a qualidade da educação depende no desenvolvimento que consiste em tornar-se um bom e capacitado profissional da educação básica, entendendo a relação pedagogos-alunos, pois uma intervenção adequada pode minimizar os efeitos desse problema de aprendizagem que é a Dislexia.

Portanto há muito que fazer e qualificar, visando em uma pedagogia efetiva e de qualidade no sentido de garantir o AEE- Atendimento Educacional Especializado, satisfatório para atender as demandas dos alunos disléxicos, dar estratégias e modos de aprendizagem que correspondem com os princípios inclusivos que a legislação não determina, pois para trabalhar com crianças disléxicas é necessário o professor tenha empatia, aceitação e motivação. A missão do pedagogo e do graduando em pedagogia é dizer que podemos conviver com as diferenças e ver que as diferenças nunca diminuem e sim somam valores e multiplicam com as experiências de cada aluno mostrando os caminhos, sem criticar as dificuldades.

REFERÊNCIAS:

ABD. Associação Brasileira de Dislexia. São Paulo, 2014. Disponível em: <<http://www.dislexia.org.br./>> Acesso em: 08 de ago. de 2014.

BRASIL. Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências. Brasília, 2011. Disponível em: <<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7611.htm>>. Acesso em: 10 de set. de 2014.

______. Instituto Brasileiro de Geografia e estatística. IBGE. Brasília, 2009. Síntese de indicadores sociais – 2009.  Disponível em: <<http://www.ibge.gov.br/home/>>. Acesso em: 11 de ago. de 2014.

______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996. Disponível em: << http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf>>. Acesso em: 08 de ago. de 2014.

FERREIRO. E, Teberosky A. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.

FONSECA, V. Introdução as dificuldades de aprendizagem, 2º ed. Porto Alegre: Artmed,1995.

MELLO, Maria de N.D. & DIAS, Merian de J.F. Dificuldades de aprendizagem na leitura e na escrita dos alunos nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Rio de Janeiro, 2005. Disponível em: <<http://wwwnead.unama.br>>. Acesso em: 10 de ago. de 2014.

TAVARES, Hermínia V. Apoio pedagógico as crianças com necessidades educacionais especiais: dislexia. Monografia de Pós-Graduação Lato Sensu em Distúrbio de Aprendizagem pela Faculdade de Medicina do ABC. São Paulo, 2008.

ZORZI, Jaime Luiz e CAPELLINI, Simone Aparecida/ organizadores. Dislexia e outros distúrbios de leitura-escrita: letras desafiando a aprendizagem. – 2ª ed. São José dos Campos: Pulso, 2009.

ZORZI J. Luiz. Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita. Porto Alegre: Artmed; 2003.

__________. Guia prático para ajudar crianças com dificuldades de aprendizagem: dislexia e outros distúrbios. Curitiba: Melo, 2008.

 

*Data original da publicação: 9 de setembro 2014

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ano: 
2014