Gostosa!

Bonita e gostosa: você me olha e me quer?

 

As Frenéticas “bombaram” lá pelos idos dos anos 70 com a música Perigosa. Sim, a música era bonita e gostosa:

http://letras.terra.com.br/as-freneticas/65222/

Nosso post de hoje, contudo, trata do uso da palavra gostosa em uma situação de sala de aula por um aluno de seis anos; portanto, aluno do primeiro ano do Ensino Fundamental. Fizemos uma pesquisa aqui em nosso blog sobre qual seria a atitude dos nossos leitores e leitoras:

 

 

Também concordamos com a maioria, que optou por chamar o aluno para uma conversa pessoal ao final da aula. Mas afinal o que dizer? Antes de sugerirmos uma resposta, algumas questões:

(a) O que efetivamente sentiu a professora ao ser chamada de gostosa? Haveria imaginado que o aluno de seis anos a desejava como mulher?
(b) O que vestia a professora no instante em que foi chamada de gostosa pelo aluno?
(c) Onde teria o aluno aprendido esta expressão? Teria sido com seu pai na mesa de sua casa diante de uma bela lasanha de domingo ou teria ouvido seu irmão mais velho chamar a vizinha de gostosa?

[sexyteacher.jpg]A primeira pergunta diz respeito à história da sexualidade da professora e sobre isto não temos muito coisa a dizer, mas somente a sugerir: uma psicanálise nos ajuda a melhor compreender como escutamos o que nos dizem os outros, sendo que os outros também são as crianças, nossos alunos, e não somente os adultos genitalizados.

A segunda pergunta diz respeito a uma questão de bom senso sobre o que devemos e o que não devemos usar como professores e professoras na escola. As crianças estão atualmente expostas em demasia aos corpos masculinos e femininos em diferentes formas e trajes nos mais variados meios mediáticos. Mas isto significa o quê? Professoras devem usar burkas? Não moramos em países mulçumanos com esta tradição. Portanto, não é de moralismo que falamos. Mas um apelo ao senso de adequação do que vestimos ao ambiente que frequentamos.

A terceira pergunta diz respeito ao que chamamos de aprendizagem vicariarante, ou seja, imitação de um modelo, que neste caso é de imitação de um comportamento verbal aprendido pela criança. Se foi aprendido a propósito da lasanha ou da vizinha, isto não nos importa neste instante. Importa é que a expressão foi usado em um outro ambiente e com uma outra pessoa. Teria a criança consciência da inadequação do seu comportamento verbal para com a professora, então? Certamente estamos diante de um problema de habilidade social e habiliades sociais também são (re)aprendidas na escola. Portanto, o problema é sim da nossa alçada docente.

Afinal, o garoto de seis anos olhou e desejou a professora? Aí vai uma diferença difícil de piagetianamente acomodar: a diferença entre sexualidade e genitalidade. O desejo que se associa à palavra gostosa em nossa língua portuguesa é da ordem do genital: gostoso ou gostosa é aquilo que se come. O verbo comer, como sabe até o mais puritano dos educadores, se associa à cópula. Portanto, inviável que o desejo do garoto de seis anos fosse de levar a professora para cama com fins de manter relações sexuais.

O que fazer, então, ao conversar com o aluno? Dizer que isto não deve ser dito e estamos conversados? Não, não tão simples assim. Propomos:

(a) Iniciar perguntando o porquê o aluno lhe chamou de gostosa/gostoso;
(b) Explorar o que ele entende por esta expressão;
(c) Demonstrar espanto ou naturalidade [e isto será da ordem da história da sua sexualidade];
(d) Explicar que isto não é apropriado para uma sala de aula porque a sala de aula não é lugar para este tipo de demonstração;
(e) Solicitar que ele lhe peça desculpas pela natureza inapropriada do comportamento;
(f) Combinar que isto não deverá voltar a acontecer;
(g) Encerrar o assunto com este compromisso sugerindo que, caso isto volte a acontecer, outras providências poderão ser tomadas.

Simples, assim? Sim, simples assim… Afinal, é um aluno de 6 anos e não de 16 anos.

 

 

 

*Data original da publicação: 27 de junho de 2011

 

 

 

Ano: 
2011