A importância das discussões de gênero e sexualidade no ambiente escolar
Por: Juliana Fernandes Silva dos Reis
Bolsista do Programa de Educação Tutorial
Licenciatura em Pedagogia-UFBA
Até bem pouco tempo, as pessoas acreditavam que qualquer expressão sexual que fugisse dos padrões de comportamento socialmente definidos para o homem e a mulher era considerado anormalidade, ou mesmo doença. No entanto, estudos mostram que não é bem assim. Para o médico e psiquiatra Ronaldo Pamplona da Costa, a sexualidade é múltipla, variável de pessoa para pessoa e tem uma dinâmica própria em cada ser humano, podendo exteriorizar-se de diferentes maneiras ao longo de uma vida, até mesmo em um único dia.
O termo orientação sexual se refere a como a pessoa se sente em relação à afetividade e sexualidade. Já a identidade de gênero faz referência à forma como alguém se sente, se identifica, se apresenta, para si próprio e aos que o rodeia, bem como se perceber como ser “masculino” ou “feminino”, ou ambos, independente do sexo biológico ou de sua orientação sexual. Assim, não são apenas as características biológicas que determinam a construção da identidade de gênero.
O ambiente escolar é considerado um dos principais lugares de construção dos saberes da criança, incluindo de identidade e, consequentemente, é um dos primeiros lugares em que a criança se depara com as diferenças, principalmente as de gênero. É muito importante que haja o desenvolvimento de uma consciência crítica e de práticas pautadas pelo respeito à diversidade e aos direitos humanos.
Mas, por outro lado, não podemos esquecer que a escola faz parte da sociedade em que vivemos. E, portanto, nela existem todos os preconceitos e discriminação presentes nos outros lugares da sociedade.
A diversidade sexual é um tema atual que necessita, de fato, de uma ampla discussão nas escolas. Um exemplo de desrespeito a essa diversidade é a homofobia contra um aluno, que pode acarretar várias consequências como comprometer a inclusão educacional e a qualidade do ensino, refletir na relação docente/estudante, produzir desinteresse pela escola, dificultar a aprendizagem e conduzir à evasão e ao abandono escolar. Muitas vezes um garoto pode ser objeto de “chacota” por parte de colegas e, até mesmo professores por ter um jeito fora dos padrões determinados pela sociedade sexista. Em tal caso, sofrerá com seu nome escrito em banheiros, carteiras e paredes da escola, se transformando em alvo de zombaria, comentários e outras variadas formas de assédio e violência ao longo de sua vida escolar.
A pesquisa “Perfil dos Professores Brasileiros”, realizada pela Unesco, entre abril e maio de 2002, em todas as unidades da federação brasileira, na qual foram entrevistados 5 mil professores da rede pública e privada, revelou, entre outras coisas, que para 59,7% deles é inadmissível que uma pessoa tenha relações homossexuais e que 21,2% deles tampouco gostariam de ter vizinhos homossexuais (UNESCO, 2004, p.144-146) .
O “papel social” do professor e da professora é discorrer sobre o preconceito, falar abertamente, sem ofender os que cometem o crime da intolerância e mostrar boa argumentação. Assim, conseguiremos barrar não apenas o preconceito, como também, faremos as pessoas que cometem hostilidades perceberem o quanto são ingênuas ou ideologicamente conduzidas ao reproduzir o que a própria sociedade reproduz e a partir daí sensibilizar o aluno ao caminho da tolerância e do respeito mútuo.
É importante que este tema esteja na escola desde a Educação Infantil até o ensino superior, passando pela formação essencial dos docentes e até pelos materiais educativos. Falar sobre gênero e sexualidade é parte da construção do respeito à diferença, uma criança que chega em casa e só conhece uma única forma de convívio com o outro, tem na escola a oportunidade de conhecer outros modos, que não necessariamente o preconceito e a violência com o que lhe é diferente.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Educação. Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas. Rogério Diniz Junqueira (Org). Brasília: Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009.
NOGUEIRA, Pedro Ribeiro. Por que a educação deve discutir gênero e sexualidade? Listamos 7 razões. Disponível em: <http://portal.aprendiz.uol.com.br/2015/06/25/por-que-a-educacao-deve-discutir-genero-e-sexualidade-listamos-7-razoes/>. Acesso em: 7 abr 16.
VILELA, Maria Helena. Sexo, identidade de gênero e orientação sexual: quais as diferenças? 2013. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/blogs/educacao-sexual/2013/05/30/os-jeitos-sexuais-de-ser/>. Acesso em : 7 de abr 16.
*Data original da publicação: 28 de abril de 2016