Minha bela dama (My fair lady, 1964)

Minha bela dama (My fair lady, 1964)

 

 

My fair lady (1964) é um filme inglês dirigido George Cukor (1899-1983), escrito por Alan J. lerner (1918-1986) e George B. Shaw (1856-1950). Entre os atores principais, estão Audrey Hepburn (1929-1993), Rex Harrison (1908-1990) e Stanley Holloway (1890-1982).

A película é uma adaptação da peça teatral Pygmalion (1912) e inspirada num musical da Broadway. Seu enredo nos apresenta Eliza Doolittle, uma vendedora de flores oriunda de uma classe menos abastada e, por isso, falante de dialeto do Inglês que é reflexo do meio social no qual está inserida.  Já Henry Higgins é um estudioso de Fonética, aparentemente avesso ao universo feminino e coberto de preconceitos lingüísticos. Higgins faz uma aposta com Hugh Pickering, seu amigo especialista em dialetos indianos, e essa aposta consiste em “transformar” Eliza numa “dama”, fazendo-a falar de acordo com a variante-padrão inglesa da época.

Logo no início do filme, podemos perceber que o Prof. Higgins entende as variações dialetais como erros; ele acredita que o inglês está se perdendo. Inclusive, o Inglês falado nos Estados Unidos, para ele, já deixou há tempos de ser, de fato, o idioma Inglês. Além disso, muitas vezes refere-se à florista como “galinha cacarejando”, entre os outros termos nada agradáveis; tratando a pobre senhorita Doolittle como “lixo” devido a sua maneira de falar e seus modos. Suspeitávamos que o professor Higgins era um desses graves e infelizes casos de homens misóginos; não excluímos, contudo, a possibilidade de ser apenas reflexo da visão da época, traçada por características machistas.

Devido à aposta, Henry Higgins deu início à tentativa de transformá-la numa “dama” para que soubesse falar e comportar-se bem em público. A “educação” direcionada era mecanicista: o trabalho consistia na repetição exaustiva dos sons vocálicos e consonantais, e depois das frases, sem incentivá-la; exceto uma vez, quando, já cansado de tanto “treinamento”, falou que ela era capaz. Assim, ela conseguiu falar “corretamente” a frase que ele já havia repetido por diversas vezes (“The rain in Spain stays mainly in the plain”).

A Língua de Eulália (veja resenha sobre o livro aqui), romance sociolinguístico de Marcos Bagno, foi por vezes lembrado durante a exibição do filme. Nele, somos apresentadas à senhora Eulália, falante do Português não-padrão, alfabetizada já adulta, mas que continua a falar no dialeto pertencente ao seu meio social.

No filme, a cena do baile foi o ápice do treinamento dado à florista. Combinou-se que, após seis meses de aulas, eles iriam ao baile (o professor, seu amigo e aluna) oferecido ao rei e, caso ninguém descobrisse a verdadeira origem da florista, ela ganharia dinheiro para seguir sua vida. Para alegria de todos, ocorreu tudo bem: um ex-aluno do prof. Higgins, também estudioso da Fonética, observou-a durante todo o baile e, ao ouvi-la, espalhou a notícia para os convidados de que Eliza era estrangeira, ou seja, para ele aquela maneira de falar da ex-florista não poderia advir de uma inglesa da classe alta. Além disso, fica a demonstração de que, mesmo com tantos esforços, o sotaque que aprendeu desde pequena permanece, mesmo que de forma mais singela.

Apesar do sucesso do baile, em momento algum Eliza foi parabenizada pelo avanço que fez e os louros do acontecido foram apenas dados ao professor Higgins e seu amigo doutor Pickering. Descontente, Eliza deixa a casa do professor, na qual estava hospedada desde o início do processo, e retorna às ruas. Qual não foi a sua surpresa ao perceber que ninguém a reconhecia mais, agora, sim, Eliza Dolittle era uma dama inglesa.

O destino por vezes ironiza os caminhos, prova disto: o pai da senhorita Dolittle. Tão ou mais pobre do que ela no início do filme, agora era ex-pobre, muito bem vestido, e estava “a um passo do altar”. Só não deixou de lado uma velha companheira que esteve ao seu lado na pobreza e na riqueza: a bebida alcoólica.

Ao final do filme, ela regressa à casa do prof. Higgins. Ele, que já via Eliza com outros olhos, olhos de apaixonado, fica feliz em revê-la. Eliza, não obstante, também houvera de ser flechada pelo cupido, e é recepcionada pelo Higgins de sempre — sem aquelas palavras apaixonadas e melosas rotineiras de cenas românticas seguidas de “e eles foram felizes para sempre”: “Eliza? Where the devil are my slippers?”.

Por fim, Doolittle falava diferente porque era oriunda de uma realidade diferente, de costumes diferentes, um contextodiferente, mas não errado.

 

 

 

 

Referências:

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolingüística. 16. ed. São Paulo: Contexto, 2008.

DIRKS, Tim. My fair lady (1964) In.: Filmsite. Disponível em: <<http://www.filmsite.org/myfa.html>>. Acesso em: 28 mai. 2011.

LEITE, Thiago. My fair lady (1964) In.: Carta Potiguar. Disponível em: <<http://www.cartapotiguar.com.br/?p=4654>>. Acesso em: 28 mai. 2011.

My fair lady (1964) In.: IMDB. Disponível em: <<http://www.imdb.com/title/tt0058385/>>. Acesso em: 28 mai. 2011.

Crédito da imagemhttp://www.submarino.com.br/

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*Data original da publicação: 1 de junho de 2012

Ano: 
2012