Curso de Pedagogia no Brasil: Trajetória, Saberes e Profissionalização
Por: Sara dos Santos Santana
Graduanda em Licenciatura Pedagogia
Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET – UFBA
Fonte:DISSIONÁRIO DE SÍMBOLOS.Caduceu. Disponível em< https:/ /www.dicionariodesimbolos.com.br/simbolo-pedagogia/>. Acessado: 09 de Mar 2017.
Pensar em uma profissão é de alguma forma, refletir sobre os saberes que são mobilizados com objetivos claros de possibilitar o exercício de uma atividade profissional. Diante disso, para tratar da profissão do pedagogo será preciso discorrer sobre os saberes mobilizados por esse profissional. Tais saberes são apreendidos em um dinâmico processo de formação e exercício da profissão que, a depender do tempo histórico, da orientação das instâncias superiores que regulamentam esses saberes e do contexto sociopolítico, vão variar, levando esse profissional, inclusive, a atuar em áreas distintas das que conhecemos hoje.
O curso de Pedagogia, propriamente dito, surgiu em 1939, na Universidade do Brasil, dentro da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Entretanto, a formação para a docência nas séries iniciais, antigo primário, iniciou-se com em 1835 no Rio de Janeiro, com a chegada da Escola Normal no Período Regencial.
A Formação do Pedagogo foi marcada, inicialmente, pela fragmentação entre Bacharelado e Licenciatura. Os Bacharéis tinham a habilitação técnica, enquanto os Licenciados trabalhavam nas Escolas Normais e na Secundária. Nos anos de 1940 e 1950 e, em parte dos 1960, o curso de Pedagogia não teve grandes mudanças e a formação desse profissional ficava a mercê do entendimento exclusivo das Instâncias Superiores, a formação do técnico e do professor para atuar na Escola Normal e Secundária.
(...) na década de 60, com a tentativa de especificar mais a formação, o pedagogo passou a ser um especialista em educação e a formação de professores acontecia somente nas escolas normais. (Corte e Wiebusch, 2014)
No ano de 1968, foi publicada a Lei de Reforma Universitária Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, no que diz respeito ao curso de Pedagogia dessa Lei emergiram as especializações: Orientação, Supervisão, Inspeção e Administração Escola e a formação de Professores do ensino normal continuou como parte do curso. Logo, durante esse tempo os saberes para lecionar na Educação Infantil e Etapas Iniciais do Ensino Fundamental continuaram distanciados do curso de Pedagogia.
Somente no final dos anos 1970 e 1980, com os Movimentos em torno das ideias de redemocratização, ocorreram mobilizações para que também o curso de Pedagogia assumisse a docência como parte da sua identidade profissional como uma tentativa de superação da fragmentação do curso. Sendo importante destacar que algumas experiências nessa direção começaram a ser desenvolvidas e já apresentavam êxito nos anos 1990, quando ocorre a publicação da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
Esses movimentos que defendem uma formação que consiga reverter a fragmentação do curso de Pedagogia se intensificam, e, em 2006, é aprovada a Resolução CNE 01 de 15 de maio de 2006, a qual definiu o campo de atuação desse profissional na educação em ambientes escolares e não-escolares,tendo como base a docência da educação infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental.Isso implica dizer que, na atual realidade educacional brasileira, o campo de atuação do Pedagogo precisa dar conta de saberes que sustentem uma atuação competente na docência das etapas iniciais da Educação Básica e na coordenação, orientação, bem como na gestão e participação nas demais atividades dentro e fora da escola, tais como,hospitais, empresas, museu, meios de comunicação, sindicatos, entre outros espaços.
Dito isto, é necessário que os currículos dos Cursos de Pedagogia proporcionem aos licenciandos conhecimentos para atuar no vasto campo, no qual a atuação do pedagogo é fundamental para favorecer o desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem em ambientes escolares e não escolares. É necessário também garantir aos profissionais em exercício uma formação continuada que possibilite uma reflexão do que já fazem na sua prática profissional, com vistas ao aperfeiçoamento desses saberes.
A continuidade da luta dos pedagogos, nesse momento histórico, deve passar pela defesa da sua autonomia profissional e garantia da sua profissionalização, que “(...) se refere ao processo onde se insere a profissionalidade – essa busca incessante por uma identidade ou perfil profissional.”(D’ÁVILA & LEAL, 2011). Sem essa busca por uma identidade profissional, é difícil reconhecer a especificidade da profissão do pedagogo, deixando-o exposto às condições de trabalhos sempre precarizadas do ponto de vista da produção dos conhecimentos inerentes à sua profissão.
Por fim, buscar a profissionalização do pedagogo é lutar pela superação da fragmentação histórica dos seus saberes, através de um modelo de formação que não contribuiu para uma identidade profissional docente sólida. Essa identidade profissional está em construção e é preciso continuar lutando para consolidá-la, através do pensar sobre o fazer e os saberes necessários para a gestão dos processos educativos dentro e fora das salas de aula.
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