O silêncio que não pode existir

O silêncio que não pode existir

 

Por: Sandra Mirelli de Araujo Simões
Bolsista do Programa de Educação Tutorial
Licenciatura em Pedagogia – UFBA

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      Com Base na dissertação de Mestrado com o tema “Do silêncio do lar ao silêncio escolar” da autora Eliane Cavalleiro (2010), busco, através desse texto, trazer para a realidade daqueles que pretendem trabalhar com crianças, principalmente para os futuros pedagogos, um olhar mais atento à discriminação da criança negra em sala de aula.

      Sabe-se que  a globalização tem mundializado o debate sobre o racismo, preconceito e discriminação, especialmente nas sociedades multiétnicas como é o Brasil. Por incrível que pareça, essa “socialização da discriminação” nos faz perceber que atitudes discriminatórias e racistas tem se tornado algo cada vez mais comum, aceitável e frequente e temos visto relatos escancarados de discriminação acontecendo no nosso país.

      Quando voltamos o nosso olhar para o cenário das nossas escolas Brasileiras, vemos o quão “machucadas” estão as nossas crianças negras por estarem em um sistema de ensino onde não se sentem parte dele. Podemos perceber em diversas pesquisas em relação à educação Brasileira, a presença de críticas e posicionamentos em relação ao cenário vivido até hoje por muitas crianças negras que são discriminadas dentro da sala de aula, na frente dos seus professores e esses parecem, com seus silêncios, pactuarem com atos de discriminação. Acredito que nós, futuros educadores, precisamos prestar mais atenção diante desses fatos. Não podemos nos calar diante de uma situação de discriminação em sala de aula.

      A Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003 inclui no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências conforme abaixo destacamos:

      Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

  • 1ª – O Conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

  • 2ª – Os Conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.

      Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”.

      Esse, certamente, é um dos marcos significativos que fortalecem a presença da questão étnico-racial nos currículos escolares. É uma Lei que altera as Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (2003), em atendimento a demandas e reivindicações sociais e históricas. Essa Lei possibilita que nos debrucemos e reflitamos sobre a ação acerca da educação para as relações étnico-raciais, para as Africanidades Brasileiras, para as História/s e Cultura/s Africanas e Afro-brasileiras na Educação .

      O papel do professor e da família é conscientizar a criança negra do valor que ela tem, de ser humano, de não se rebaixar diante de colegas que a discrimina.

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      Apesar da discriminação se um assunto “discutido” a bastante tempo, é muito perceptível que poucas ações têm acontecido, e é esse um dos principais papeis do professor na educação atual, de desconstruir práticas discriminatórias e apresentar a perspectivas de uma sociedade multicultural e multiétnica.

      É inegável que a experiência escolar amplia e intensifica a socialização da criança. O contato com outras crianças da mesma idade, com  adultos não pertencentes a sua família, com outros objetivos de conhecimento, além daqueles vividos pelo grupo familiar vai possibilitar outros modos de leitura do mundo. É exatamente isso que tem que ser disponibilizado ao aluno, ele precisa se sentir inserido na sociedade, conhecendo diferentes tipos de pessoas, diferentes formas de pensar e agir e ir por si só entendo os valores individuais e sociais. Lembrando que o professor faz parte da formação de cada aluno.

   Precisamos, como educadores e seres humanos, prestar atenção a esse “ocultamento” diante de situações de agressões verbais do seus alunos. Muitas vezes, um professor se oculta diante de um coleguinha que ofendeu o outro e isso não pode acontecer. O silêncio não é uma estratégia para evitar conflitos, na verdade com o silêncio você parece reafirmar tal atitude. Cabe ao professor educar os seus alunos lhes apresentando diferentes perspectivas de vida, diferentes culturas para que todos possam entender que essa diversidade é o que forma cada um e que é bom ser diferente. É um trabalho difícil para o professor desconstruir um preconceito que muitas vezes já integra o repertório comportamental das crianças. Porém é o professor quem não pode desistir deste seu compromisso com a mudança de comportamentos de seus alunos, já que é ele quem media a formação de novos seres humanos para um novo mundo.

 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n° 10.639, de 9 de janeiro de 2003Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Brasília, 2003.

______. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Brasília: MEC- SECAD/SEPPIR /INEP, 2004.

______. Plano Nacional de Implementação das diretrizes curriculares nacionais para educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afrobrasileira e africana. Secretaria especial de Políticas de Promoção da Igualdade racial. Subsecretaria de políticas de Ações afirmativas. Brasília: MEC, 2009.

CAVALLEIRO, Eliane. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil2010. Contexto, 2010. 240f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, 2010. Disponível em:<https://xa.yimg.com/kq/groups/19003918/1691636777/name/TESE>. Acesso em: 15 de abr 2016.

 

*Data original da publicação: 7 de junho de 2016

Ano: 
2016