PARA QUE ARTE EDUCAÇÃO?

PARA QUE ARTE EDUCAÇÃO?

 

Por: Mirela Oliveira dos Santos
Bolsista do Programa de Educação Tutorial
Licenciatura em Pedagogia-FACED/UFBA

 

Milena texto

Montagem feita pela autora do texto com imagens retiradas da internet

     Ao consultarmos a história e as práticas escolares no decorrer dos tempos, perceberemos que a visão sobre a educação artística dentro dos espaços escolares, na maioria das vezes, esteve e em muitos casos, ainda está sendo vista como um simples momento de entretenimento ou como estratégia para “acalmar criancinhas”.

      Este lugar decorativo ocupado pela arte em muitos espaços educacionais, tem suas bases na própria origem desta área do conhecimento. Dentre algumas experiências pioneiras neste ramo, destaca-se a “Escolinha da Arte no Brasil” (EAB) fundada em 1948, na cidade do Rio de Janeiro, por Augusto Rodrigues (1913-1993), conhecido como artista plástico e arte-educador brasileiro. Nesta época, a Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971 fixava diretrizes e bases para o ensino de 1° e 2° graus, trazendo novas características para o ensino dentre as quais está a institucionalização da educação artística, mesmo assim, o ensino regular ainda não reconhecia veementemente as expressões e trabalhava a arte apenas como desenho geométrico, artes industriais, manuais, domesticas e outros formatos que em nada lembrava esta tão rica e plural manifestação cultural. Segundo Duarte (1999, p. 80):

Neste sentido a arte sempre foi vista como “artigo de luxo” como um “acessório” cultural: coisa de desocupados. O verdadeiro ensino da arte foi reservado às horas de ócio das classes superiores, dando-se apenas nos “conservatórios” e “academias” particulares.

      Isso ocorria devido ao modelo utilitarista posto pela sociedade industrial e pelo setor educacional que recebia pressões para apresentar “conteúdos adequados” para aqueles que seriam os operários do futuro. O tempo passou e a escola continua trabalhando para formação de indivíduos técnicos, sem levar com consideração o despertamento da humanização e da sensibilidade destes sujeitos, aspectos tão importantes para a convivência em comunidade.

      Forquin (1982) apresenta no segundo capítulo do livro: “Educação artística: luxo ou necessidade?” Organizado por Porcher (1982), que não é possível apresentar interpretações unívocas a respeito da finalidade da arte, mas que é possível posicionar-se frente a esclarecimentos básicos: 1. A educação artística não pretende formar nos indivíduos um amor problemático e isolado por belas-artes e belas obras, mas formá-lo criticamente, para que o mesmo possa ser capaz de se perceber enquanto ser social, apto a posicionar-se firmemente frente as diversas situações cotidianas. 2. A educação artística não pretende necessariamente desenvolver uma habilidade artística específica, ela se esforça por despertar a sensibilidade, a criatividade e a expressão dos sujeitos.

      Ao contrário do que muitos pensam: 3. A educação artística propõe a utilização de métodos pedagógicos específicos, progressivos e controlados, ou seja, existe uma sistematização do conhecimento para que possa ocorrer a alfabetização estética dos seres. Neste sentido, Forquin (1982, p. 35) relata que:

Tratando-se de educação artística, o problema reside, com efeito, em construir, produzir, elaborar no indivíduo essa peculiar espécie de aptidão que é a aptidão emocional, a aptidão de experimentar no contato com o objeto, com uma forma ou uma obra um tipo especial de emoção, chamado prazer estético (Grifo do autor).

      A educação artística libertadora, não é aquela baseada em modelos prontos para colorir e recortar, mas é a que permite o despertamento dos sentidos, o desenvolvimento da criatividade, da autoestima, da autonomia e da segurança para expressar ideias. Desvendando os limites e as possibilidades individuais de cada um, e trabalhando sobre eles, na busca pela sua plenitude na participação e no convívio social.

      A compreensão de si e do outro ajudará o educando a ter uma visão diferenciada sobre os padrões de beleza estabelecidos, e sobre o lugar social daqueles que sustentam e reafirmam estes formatos como cultura dominante. Segundo Barbosa e Cunha (2010) dentre os estudos utilizados como principal referência para o trabalho com arte, está a Proposta Triangular ou Abordagem Triangular que consiste em três eixos norteadores para aprendizagem artística: a leitura da expressão artística; sua contextualização (história, cultura, circunstâncias, histórias de vida, estilos e movimentos artísticos); e a produção que permite que o aprendente realize concretamente a expressão estudada, uma proposta que busca fazer com que docentes e discentes mergulhem com mais profundidade na diversidade cultural da arte.

      É diante desta gama de pesquisas que salientamos a importância do acesso à cultura nas suas mais variadas expressões artísticas, e da educação artística emancipadora nos espaços educacionais, ainda que, como sabemos, não tenhamos professores com formação artística na maioria das escolas públicas, bons espaços, condições, e materiais de trabalho adequados para o desenvolvimento pleno dos educandos. Cortella (2015) um grande filósofo e educador brasileiro nos deixa uma provocação em uma de suas palestras: “Façamos o melhor, na condição que temos enquanto não temos condições melhores, para fazer melhor ainda!”. Abstendo-se do comodismo que tenta nos cercar com as amarras das dificuldades e desigualdades cotidianas, e tenho sempre a consciência da responsabilidade social e da necessidade de uma constante luta política por melhores condições de aprendizagem.

 

REFERÊNCIAS:

BARBOSA, Ana Mae; CUNHA, Fernanda Pereira da (org.). Abordagem triangular no ensino das artes e culturas visuais. Campinas, SP: Cortez, 2010.

BRASIL. Lei n° 5.692/71, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2° graus, e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União, 1971.

DUARTE, Jr. Por que arte-educação? Campinas: Papirus, 1999.

FORQUIN, Jean. A educação artística – para quê? São Paulo: Summus, 1982.

NETO, Julian. Se você não existisse, que falta faria? 1’23″36. Palestra Mário Sérgio Cortella, 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3rzvOqrtWIc>.   Acesso em: 14 mai 16.

PORCHER, Louis (org.). Educação artística: luxo ou necessidade? São Paulo: Summus, 1982.

 

*Data original da publicação: 19 de maio de 2016

Ano: 
2016