Proposta Didática

GEOGRAFIA DO BAIRRO: Uma proposta Didática para os primeiros anos do Ensino Fundamental

 

Ensinar Geografia nas séries iniciais do ensino fundamental exige do professor uma postura e um pensamento diferente de alguns dos docentes de anos atrás. No Brasil, por muito tempo, os professores de Geografia ensinavam os assuntos geográficos aos alunos, como algo exclusivamente, baseado nos livros didáticos. (MOURA, MOZER, 2006)

Um dos assuntos estudados, atualmente, na disciplina de Geografia é o Bairro. Porém, é impossível imaginar um aluno estudar esse conteúdo sem conhecer e compreender o bairro no qual ele vive. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo relatar uma proposta metodológica sobre o estudo do bairro, com base no trabalho e na pesquisa das autoras Tânia Cristina Mozer e Jeani Delgado Moura (2006), com o título Geografia no Bairro: Uma prática nas séries iniciais do Ensino Fundamental.

Segundo as autoras, o ensino de Geografia no Brasil foi instituído na década de 30 passando por muitas mudanças e debates sobre o objeto e o método a serem utilizados para o ensino da ciência da Geografia. No entanto, os debates trouxeram mudanças consideradas positivas, pois serviram como um estímulo para a produção de modelos didáticos. Mas também foram consideradas como negativas, pois existiam diversas propostas didáticas que eram descartadas a cada conceito novo, sem ao menos ocorrer uma concretização que pudesse servir como suporte teórico e metodológico para o professor.

Atualmente, a estruturação dos conteúdos geográficos é em círculos concêntricos (casa, escola, bairro, município, estado, país, mundo). Essa estruturação de estudos significa um avanço, já que abandona a perspectiva de se estudar todas as coisas de todos os lugares ao mesmo tempo, possibilitando a aproximação da ciência da geográfica e da construção de um objeto de estudo. Porém, os estudos não estabelecem relação entre eles, ou seja, não se colocavam perspectivas do sujeito na investigação, a não ser o ficar sabendo de que existe. (BRAGA, 1996)

Sendo assim, as falhas e limitações dos estudos concêntricos na prática são evidentemente notáveis. Segundo Braga (1996) uma das falhas é o conceito de comunidade concretizado e apresentado como lugar homogêneo e sem conflitos, criando uma ideia ingênua da realidade de uma comunidade. Além disso, os estudos na estruturação dos círculos concêntricos não possibilitam entender as relações sócio-espaciais, pois os círculos fecham-se sucessivamente em si, não permitindo uma reflexão sobre a relação entre local e o global e vice-versa.

É necessário transpor os conteúdos em círculos concêntricos, ao propor o estudo do bairro. O bairro é o espaço das relações cotidianas das pessoas, onde ocorrem as relações sociais e econômicas. Para isso, o estudo do lugar é de imensa importância para a reflexão e compreensão do processo de globalização.

É nos lugares específicos que o processo de globalização é concretizado, e no mesmo modo em que ocorre a busca por um processo de homogeneização nos espaços, a diferenciação entre os lugares é intensificado. A diferença entre os lugares é marcante, porque os diferentes grupos sociais reagem de forma desigual, desenvolvendo assim uma identidade própria. (MOZER, MOURA, 2006)

A percepção que o indivíduo tem do lugar é influenciada pelo meio e pelos os conhecimentos que ele adquire, possibilitando melhorar ou a piorar a imagem do lugar em que está inserido. Portanto, o estudo do lugar/bairro irá contribuir para que os alunos entendam como se estabelecem as relações locais com as globais. “Cada lugar é, à sua maneira, o mundo” (SANTOS, 1996)

Uma das grandes dificuldades ao estudar o espaço geográfico é a necessidade de delimitá-lo, pois ele é amplo. A escala espacial de análise permite um recorte de extensões territoriais. Porém, não significa que ao trabalhar um espaço deva-se isolar outro, mas sim trabalhar os diferentes níveis, possibilitando um entendimento das complexidades da sociedade humana, logo é importante transitar pelos vários níveis para não correr o risco de explicações simplistas para os alunos.

No texto, Mozer e Moura (2006) apresentam a metodologia aplicada no bairro denominado Parque Residencial Ana Rosa, localizado em Cambé-PR, em uma escola municipal, com alunos da 5º ano.

A proposta de ensino desenvolvida e aplicada experiência didática teve como objetivo permitir que os professores e alunos utilizassem o conhecimento e o entendimento da realidade do bairro (local) para a compreensão de um espaço mais amplo (regional e global), rompendo com a proposta de ensino dos círculos concêntricos.

A experiência didática foi executada com a técnica da “Memória Viva”, na qual os alunos ouviram as pessoas mais velhas do bairro e assim conseguiram relacionar as histórias de vida dos familiares com a trajetória do bairro. Além disso, os alunos utilizaram vídeos para enriquecer a entrevista, em que eles perceberam pelas imagens, as transformações na paisagem e nos costumes narrados pelos entrevistados.

Os alunos tiveram a oportunidade de perceber como a dinâmica global interfere na local, uma vez que eles conheceram o comércio do seu bairro, e notaram que muitos produtos são produzidos em outras regiões, e que são consumidos pela comunidade local, fazendo a economia fluir. Sendo assim, ocorreu a ligação dos níveis da Escala Espacial de Análise, que como dito, anteriormente, são estudados isoladamente.

A experiência didática desenvolvida despertou nos alunos a vontade e a importância de entender o local onde eles vivem, além de proporcionar a compreensão da dinâmica existente entre o local e o global, uma vez que o ensino não se limitou somente a sala de aula e ao livro didático.

 

REFERÊNCIA

MOZER, Tânia Cristina Lopes. MOURA, Jeani Delgado Paschoal. Geografia do bairro: uma prática nas séries iniciais do ensino fundamental. In. Antonello, Ideni Terezinha. Moura, Jeani Delgado Paschoal. Tsukamoto, Ruth Youko. Múltiplas geografias. Edições Humanidades: Londrina, 2006, p. 109-133.

Crédito da imagem:

http://bahiaquiali.blogspot.com.br/2011_03_01_archive.html.l

*Data original da publicação: 12 de abril de 2013

Ano: 
2013