Quem quer ser um milionário?

O JOGO DA VIDA

 

Quem quer ser um milionário? (2008; direção Danny Boyle) levou milhares de pessoas às salas de cinema em todo o mundo e encantou. Muito mais pela simplicidade, bom humor, leveza e elegância indiscutível com que apresentou o ser universal. A Índia torna-se o mundo.

A fotografia viva, o colorido forte, a música envolvente, a convivência do belo com o grotesco fazem as cenas saltarem aos olhos enquanto contam uma história de determinação. Como um analfabeto, morador de rua pôde vencer o jogo? *Eu responderia: vivendo. A vida é um jogo.

O fato me fez pensar nos espaços de educação para além da escola e nas articulações com as tantas possibilidades que a história de uma vida oferece à escola e esta nem sempre valoriza, participa, aproveita. E pior que isso, acaba muitas vezes por renegar o sujeito dessa história, se valendo de preconceitos para alijar, estigmatizar, excluir.

Como o futuro, tecido pelo passado, vai se concretizando nesse filme, nos impõe uma jogada de mestre. Elementos como a surpresa, a dúvida, a tensão, a beleza e a ética compõem a vida, inspiram o jogo e conquistam o espectador. Assim aconteceu comigo na sala de cinema: fisgada pelos imprevisíveis previstos e imprevistos dessa odisseia que aproximaram ficção e realidade.

Quem quer ser um milionário? O rapaz pobre queria mais. E assim, o momento do jogo não constitui apenas na transição entre pobreza e riqueza, no diálogo entre a dúvida e a certeza, problema e solução, mas sobretudo na passagem do menino para o adulto: uma iniciação. É o sonho tornado realidade, é a determinação de jogar com a própria história.

O Oscar de melhor filme gerou polêmica e a reação da crítica já era esperada. Terá sido a vitória da materialização do lúdico e do belo, da forma sobre o discurso? Essa vitória por um lado e a decepção daqueles que “não aderiram ao jogo”, por outro, podem ser entendidas como um sintoma de uma sociedade que, despreza essa porção da vida, se molda por essa falta, mas continua desejando. Um filme contagiante, gostoso de assistir. Necessário ao nosso tempo.

*Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento. (Clarice Lispector).

 

 
*Data original da publicação:  08 de julho 2011
 
 
 

 

Ano: 
2011