Relacionamento entre família e escola e seus conflitos

 

Por: Ana Paula de Jesus Capistrano                                                                                                  

        Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal da Bahia                                              

        Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET – UFBA

 

Relacionamento entre família e escola e seus conflitos

 

      É sabido que o êxito escolar de um aluno depende tanto da escola quanto da família. Mas qual é a diferença entre a educação promovida pela família e a educação promovida pelo Estado ou escola (já que o Estado promove a educação através dessa instituição)? E como se dá o relacionamento entre essas duas instituições?

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      Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), no Artigo 2º:

A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996, p. 09).

      No Artigo 205 da Constituição Federal vigente diz que:

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988, p. 121).

      Ou seja, na LDBEN (1996) a família está em primeiro lugar, já a Constituição Federal (1988) coloca o Estado em primeiro lugar como responsável pela educação.

      Segundo as autoras Guimarães (2012) e Abuchaim (2011), a educação na família acontece de forma livre através das experiências que as crianças adquirem na sua relação familiar. Já na escola a maioria das experiências vividas pelos alunos são sistematizadas e visam um objetivo final.

      Na verdade a educação promovida pela escola deve complementar a que é desenvolvida pela família e vice-versa.

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      Mas infelizmente, muitas vezes, não é isso que acontece. Ao contrário, gera-se um conflito entre família e escola. A primeira transfere sua responsabilidade para a escola, a segunda culpa a família por não ensinarem aos seus filhos o que consideram conhecimentos básicos como as “boas maneiras”.

      Em alguns casos a escola vê as famílias como complicadoras do processo de ensino-aprendizagem. Seja por que algumas famílias muitas vezes não entendem a didática utilizada pela escola, “é bastante comum, inclusive, que as famílias não compreendam o aprendizado por meio da brincadeira” (ABUCHAIM, 2011, p. 80). Isso acontece por que muitos pais acreditam que a brincadeira é uma prática doméstica e que a escola deveria se preocupar apenas com o ensino da leitura e da escrita. Eles não entendem que é por meio das brincadeiras sistematizadas promovidas pela escola que a criança vai se desenvolver e adquirir a habilidade da leitura e da escrita.

      Ou por que algumas famílias não tem envolvimento com a educação dos filhos.

Há, portanto, uma variação muito grande no que diz respeito ao envolvimento das famílias. Esta realidade é influenciada por vários fatores, como: profissão, classe social, necessidades e recursos de cada família. As diferentes estruturas familiares geram modos diversos de envolvimento com a instituição (ABUCHAIM, 2011, p. 84).

      É comum ouvir de professoras/es que alguns pais não tem o cuidado de verificar as atividades dos filhos e/ou recados enviados pelos professores, como também alguns não comparecem nas reuniões de pais e professores, dificultando assim a continuidade do processo ensino-aprendizagem promovido pela escola.

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      Outro conflito entre a relação família-escola é a hierarquização da autoridade sobre a criança. “É comum a família ser colocada num lugar de inferioridade, aquela que “não sabe”, ou que é “menos que” os professores e profissionais da creche/escola” (GUIMARÃES, 2012, p. 90). Ou seja, em alguns casos, por ser detentora dos conhecimentos científicos, a escola se coloca acima rejeitando os saberes, a cultura individual e o dialogo com as famílias.

Nestas situações, a instituição costuma tomar para si a autoridade em relação ás crianças, decidindo sozinha sobre questões da intimidade e da vida social dos pequenos (momento de retirada de fraldas, questões relativas á alimentação, entre outras). (GUIMARÃES, 2012, p. 90).

      Ou seja, tomando decisões que necessitam do consentimento das famílias. Sem falar quando a escola não permite a aproximação das famílias, como exemplo: exigindo que as mesmas não entrem nas salas e esperem seus filhos do lado de fora da escola.

      Por outro lado, em muitos casos, as famílias veem a escola apenas como “prestadoras de serviços (também em falta), de atenção (individualizada), de cuidados básicos” (GUIMARÃES, 2012, p. 91), querendo que a escola cumpra papeis que cabem à família.

Todos esses conflitos podem refletir no processo ensino-aprendizagem, gerando um déficit no desenvolvimento da criança. Quando isso acontece, a escola culpa a família e a família culpa a escola. Fazendo com que ambas não cheguem num acordo comum e nem reconheçam a importância da articulação entre as duas importantes instituições no desenvolvimento da criança.

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      A escola e a família partilham um mesmo objetivo que é o desenvolvimento da criança, para que esse desenvolvimento aconteça é necessário que ambas as instituições trabalhem de forma sincronizada, pois a escola é constituída não só pelos alunos e profissionais como também pelas famílias.

      Por isso é importante o dialogo entre essas importantes instituições, pois quando há esse diálogo a grande beneficiada é a criança. Mas infelizmente esse diálogo ainda é raridade.

      Apesar de ser raridade não é algo impossível de se alcançar, é necessário somente que as escolas abram suas portas para que as famílias possam participar da vida escolar dos filhos. Também é necessário que as famílias se interessem e participem da vida escolar dos filhos e compreendam que a forma de educar da escola é diferente da família. Só assim poderá ocorrer uma prática de ensino-aprendizagem continua e de qualidade.

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Referências:

 ABUCHAIM, Beatriz. Dialogar é preciso. Revista Educação – Edição Especial “Educação Infantil”. São Paulo: volume 1, 2011, p. 76-90.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988.

______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996.

GUIMARÃES, Daniela. A relação com as famílias na Educação Infantil: o desafio da alteridade e do diálogo. In: Educação Infantil e Sociedade: questões contemporâneas. Nova Petrópolis: Nova Harmonia, 2012.

 

*Data original da publicação: 23 de outubro de 2015.

Ano: 
2015